A pregação dos exercícios espirituais inacianos

27-05-2013 23:20

A pregação dos exercícios espirituais inacianos


Como melhorar a pregação sagrada: coluna do Pe. Antonio Rivero, L.C., Doutor e professor de Teologia e Oratória no seminário Mater Ecclesiae de São Paulo

Depois de explicar o que é um retiro espiritual de um dia ou de meio dia, tratarei hoje dos exercícios espirituais, em conformidade com as ideias de Santo Inácio de Loyola, a quem Deus inspirou este método de oração e de transformação interior no século XVI, o século de ouro espanhol, e que a Igreja recomenda vivamente até hoje.

Santo Inácio considerava os exercícios não como "obra sua", mas como um dom de Deus para toda a Igreja. Ele concebeu e realizou os exercícios não como doutrina especulativa, mas experimentou-os ele próprio numa gruta-mosteiro de Manresa, onde, durante quase um ano, levou vida de asceta e penitente, e, como escreve em sua Autobiografia"tratava com Deus da mesma forma que um menino trata com seu professor" (Autobiografia, 27).

Primeiro, falemos do que são os Exercícios Espirituais e da sua finalidade. São um método espiritual e prático ao mesmo tempo, para (1) escutar a Deus e ordenar a vida de acordo com Deus, ou seja: acomodar cada coisa em seu lugar conforme a vontade de Deus, que deve ser sempre a bússola da nossa vida; (2) fazer, assim, uma opção madura, livre, amorosa, depois de um sério discernimento na presença de Deus e com a ajuda do diretor espiritual; e, finalmente (3), escolher o que Deus quer de cada um de nós para darmos glória a Ele e sermos felizes aqui e na outra vida. O Evangelho é a medula dos exercícios espirituais.

Segundo, há dois modos de realizá-los. (1) Os chamados exercícios espirituais em casa, durante os quais se mantêm as tarefas comuns do próprio estado de vida. É uma adaptação que Santo Inácio mesmo fez, em sua anotação 19, para que pessoas muito ocupadas pudessem fazer seus exercícios sem abandonar as atividades cotidianas: elas vão, à tarde ou à noite, até uma igreja ou local apropriado em que um sacerdote ou leigo bem preparado lhes oferece uma meditação; voltam para casa e, durante o dia, procuram refletir nas ideias dos exercícios, sem deixar de cumprir as suas tarefas e trabalhos; (2) o outro modo consiste em dedicar alguns dias, no mínimo três, em uma casa de retiro, sem outras ocupações, para entrar em oração com a tranquilidade necessária, escutar a Deus, dialogar com Ele e revisar a própria vida a fim de mudar o que deve ser mudado, de modo que a vida corresponda ao plano de Deus.

Terceiro, qual é a duração dos exercícios espirituais? No plano original de Santo Inácio, eles deveriam durar um mês, ou quatro semanas. Cada semana tem um objetivo concreto que poderíamos resumir assim em latim: na primeira semana, “deformata reformare”(reformar o que está deformado em nós, devido ao pecado e aos apegos que nos impedem de cumprir a vontade de Deus e atrasam a nossa santificação); na segunda, “reformata conformare” (conformar o que foi reformado, ou seja, conformar a nossa vida com Cristo Ideal e Modelo); na terceira, “conformata confirmare” (confirmar e consolidar o que foi conformado, meditando na Paixão e Morte de Cristo e deixando que o seu sangue bendito nos una à sua cruz); e na quarta, “confirmata transformare” (transformar, por meio do amor, o que foi confirmado: as decisões da vontade, graças ao poder de Cristo Ressuscitado e à força do seu Espírito, refletindo uma vida luminosa, cheia de fervor e de zelo ardente pela glória de Deus e de testemunho convicto perante os outros).

Quarto, como vivê-los? Eu sugiro sempre quatro atitudes, e, para gravá-las melhor, elas são “quatro S”. Em Silêncio. Com Serenidade. Com Sinceridade. Com Seriedade. Em silêncio, para escutar com nitidez a voz de Deus e a voz do meu próprio coração; silêncio interior e silêncio exterior. Serenidade, para que o demônio não aproveite para nos tirar a paz ao meditarmos sobre os nossos pecados e apegos. Sinceridade, para chamar as coisas pelo nome. E seriedade, porque com Deus não se brinca e de Deus ninguém escarnece. Deus é Pai, mas não é um bonachão.

Na próxima semana, continuaremos explicando esse tipo de prédica sagrada que são os exercícios espirituais.